Acompanhei a carreira de Ayrton Senna desde antes da Fórmula 1.
Patrocinado pelo Banerj e pelo jeans Poll, na Fórmula 3 britânica rivalizou com Martin Brundle, tal qual seria com Alain Prost na Fórmula 1.
Junto com seu pai Miltão, lembro de Senna em um programa de rádio falando das dificuldades de se manter na Europa.
Foi pela Toleman (um equipe sem nenhum destaque) que Senna em 1984 estreou na F1. No ano seguinte foi para a Lotus até 1987 e depois para McLaren até 1993 indo para a Williams em 1994.
Para entender a importância de Senna é preciso extrapolar a esfera esportiva.
Desde 1970 o Brasil não ganhava uma Copa do Mundo, a economia vinha de mal a pior, com inflação crescente e uma sensação de corrupção generalizada.
Não havia motivo para se ter orgulho de ser brasileiro e a esperança de um tempo melhor se foi com a morte de Tancredo Neves, o primeiro Presidente Civil depois de 21 anos de Ditadura Militar, mas que tendo adoecido, morreu antes de tomar posse.
Vergonha e tristeza eram esses os sentimentos a que éramos remetidos sobre sermos brasileiros.
Três anos antes da morte de Tancredo havíamos perdido a Copa do Mundo mesmo tendo o melhor time, a inesquecível seleção de 1982.
Copa do Mundo de 1986, dia 21 de junho. Naquele dia fomos eliminados pela França numa dolorosa disputa de pênaltis, jogando a autoestima tupiniquim talvez em seu mais baixo nível em toda História.
Domingo, 22 de junho de 1986. Um dia depois da dolorida derrota na Copa contra a França, Senna vencia o GP de Detroit e pela primeira vez pegou a bandeira do Brasil na volta da vitória, gesto que iria repetir muitas vezes ao longo de sua carreira.
Senna foi a antítese do “complexo de vira-lata”, se impunha aos seus adversários, diferente de Macunaíma, o herói sem caráter, Senna passou a ser nossa referência de dedicação e profissionalismo. Um herói de verdade, de carne e osso, que nos fazia ter orgulho de sermos brasileiros.
Senna impactou toda uma geração, ensinou o valor da preparação, foi exemplo de tenacidade, fez com que acreditássemos em nossos sonhos, que era possível chegar lá, mesmo diante dos maiores obstáculos e das maiores injustiças.
Senna nos ensinou a superar nossos próprios limites.
Os domingos de corrida eram aguardados ansiosamente. Não eram poucos os brasileiros que faziam da F1 seu principal programa de Domingo.Perdi a conta de quanta vezes misturei lágrimas e gritos de comemoração assistindo Senna.
São inúmeras as corridas que foram marcantes, mas guardo algumas na lembrança com especial carinho. A primeira vitória de Senna em Estoril, Portugal em 1985, com direito a tema da vitória, até então só usado para Nelson Piquet.
A vitória em 1993 em Donington Park, com a mais incrível primeira volta da História da F1, foi também uma das que mais me marcaram.
Outras duas que carrego comigo foram as vitórias em Interlagos (1991 e 1993), ambas que tive a oportunidade de ver ao vivo no autódromo. Uma no final do S do Senna e outra no final da reta dos boxes. Especialmente em 1991 foi simplesmente inesquecível, a primeira vitória, épica, sobrehuma.
A tocada de Senna era diferente, com câmbio manual, era possível perceber “de ouvido” a diferença para os outros pilotos.
De todas essas lembranças para mim a vitória mais marcante foi a do GP do Japão de 1988, quando Senna ganhou seu primeiro título.
“Pole position”, Senna perdeu 16 posições na largada, fez uma incrível corrida de recuperação e ganhou a prova. Lembro como se tivesse acontecido agora, o “close” que a TV deu no rosto de Osamu Goto, pegando o chefe da Honda com um sorriso incrédulo diante daquele show de pilotagem.
Hoje 30 anos depois de sua morte Senna segue me inspirando e vivo em meu coração e no de milhões de brasileiros.Nós jamais te esqueceremos Ayrton Senna do Brasil. Jamais.
