Opinião

Reflexão Sobre o Fim da Cantada

Sou do tempo (embora não seja de 1959) que assobiar na rua pra uma mulher não era considerado crime de assédio sexual.

A gente às vezes ficava meio encabulada mas ao mesmo tempo no fundinho, se sentia bem. Receber essas cantadas nunca foi um incomodo, claro que dentro do limite do respeito, sem tocar, sem palavras obscenas.

Mas em algum momento, assobios e elogios viraram assédio. Aliás, tenho a sensação que tanta coisa hoje em dia se chama assédio, que o termo perdeu o peso que tinha antigamente. Já ouvi relato de menino dizendo pra menina que achava ela bonita e ouvindo como resposta (que ela deve ter escutando em algum TikTok de feminista) “Você está cruzando uma linha. Não te dei o direito de falar assim comigo”. 😳

Também sou do tempo que a cantada partia do homem. Hoje vejo muitas mulheres se gabando da conquista do direito de partir pra cima dos moços, feito caçador. Que graça tem isso?

Outra coisa que percebi de uns tempos pra cá é o padrão duplo de tratamento de atributos físicos de homens e mulheres. Explico.

Outro dia fui assistir ao show da Frozen (o da famosa música Lerigooo). A apresentadora passou um bom tempo passando as mãos e aparentemente se deliciando no avolumado braço do príncipe Hans. Imagina o escândalo se o apresentador encostasse um dedo que fosse na ponta do dedão da princesa Elsa? Nem dizer que ela está bonita pode, seria objetificação da mulher. Já o coitado do Hans pode ser resumido a seu bíceps avantajado. Quem assistiu ao Barbie Movie sabe bem do que estou falando.

Enfim, tenho 3 filhos homens. Temo que eles vivam num mundo onde os homens tenham se tornarado a picanha das mulheres, onde eles não desfrutem da sensação de conquista de uma garota, onde galantear uma mulher seja crime, e onde as relações sejam vazias e superficiais.

Na foto de 1959, homens assobiam enquanto uma moça passa pela calçada. Ela não parece se incomodar.

Tatiana Poroger

Paulistana, graduada em administração de empresas pela Pace University NY, trabalhou no mercado financeiro, em gestão de educação e na área comercial, até se descobrir no marketing digital, onde atua até hoje. É também ativista política, colaboradora do Ranking dos Políticos, além de curiosa e palpiteira.

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2 Comentários

  1. Se um homem tivesse escrito esse texto seria cancelado imediatamente por todos. Obrigado por trazer um pouco de equilibro a questão. A diferença do remedio e do veneno eh a dose… Penso que chegamos em um extremo onde o remedio começa a ser veneno e sem aparentemente reduzir os indices de violência contra as mulheres… (que são altíssimos e realmente precisam ser combatidos)

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